quinta-feira, 4 de maio de 2017

UNIVERSO PARALELO


Sinto-me como se estivesse entrando em outro universo, um universo paralelo onde não existe Sol nem Lua,  apenas um astro feito de luzes neon de cores variadas e onde o ambiente sonoro é ocupado totalmente por músicas eletrônicas. Nesse universo não existe água, mas sim álcool e ele é como o líquido sagrado que brota de nascentes, forma rios e oceanos e faz todos permanecerem num estado de alegria constante e inspiração artística infinita. Estamos em outro universo, o mundo real está suspenso lá fora. O eu que aqui dança não é o mesmo que lá fora senta na frente de um computador e vive as burocracias das normas pois aqui não há regras e nem leis, não existe medo da morte e nem medo da dor e nem medo do amor porque aqui o amor não existe. Será que alguém aqui conhece a tristeza? Duvido muito, aqui não há tristeza, mas vi um rapaz chorando no banheiro em completo desalento e não sei ao certo o que ele faz aqui pois aqui não há lágrimas. Esse moço que chora é como um desajustado, um ser anormal e nesse universo não são aceitas pessoas assim. Dê a ele um banho dessa bebida luminosa e deixe que ele renasça como um dos nossos, cheio de glória e alegria e sem o pesar da moral. Aqui não temos Jesus, nem Buda, nem ninguém dessa estirpe e mesmo assim talvez eu possa encontrar algum desses sussurrando que algo está errado e que o inferno nos espera. Mas ninguém aqui liga pra isso pois estamos verdadeiramente bêbados e trocamos todos os mestres espirituais por qualquer poeta da noite, poetas que desceram à essência humana e a traduziram em palavras, não espírito, não conjunturas metafísicas, mas sim carne e dor e amor e alegria e amor de novo e talvez a sombra de algum mistério por trás disso, uma alma, um subconsciente e talvez não exista nada disso.
Encontrei as divindades desse universo e elas estão nuas, mulheres e homens que dançam em um palco sem roupa, rodeados de devotos de olhos brilhosos, sim, são os deuses daqui numa espécie de Olimpo de adoração e eu também os venero de joelhos...deuses desse mundo, tenham piedade de mim, olhem por mim, me protejam nessa noite tão curta, me defendam dessas bocas cheias de vodca e me concedam os lábios daquele ali no canto...e esse redemoinho que gira e gira e gira e gira e gira e nem sei se estou em pé ou deitado ou talvez estou levitando, mas isso não existe ou existe? Talvez eu tenha uma alma e talvez ela esteja nesse momento saindo do meu corpo (o que tinha no meu copo?) .
Toquei um dos deuses que dançavam no palco e ele me levou à sua morada escura, talvez aqui seja o Hades e este seja um deus de um submundo pois aqui é tão escuro e ao mesmo tempo tão luminoso, caminhos longos e cheios de seres misteriosos com seus sons de prazer. Estou com essa divindade e nos envolvemos na dança sagrada, será esse o êxtase que dá sentido a nossa vida? Há algo que seja superior a esses gemidos? Dizem que sim, porém por vezes penso que não e na realidade não sei de nada.
As luzes se acendem repentinamente e os vórtices que abri no Universo pedem que eu retorne ao meu mundo de origem, mundo de papéis e livros, mundo de discursos religiosos e de contas, de amores mal resolvidos e de questões filosóficas incômodas. Luzes malditas, por que vocês não me deixam aqui para sempre? Então o assombroso silêncio se une à luz forte e imediatamente já estamos novamente no Mundo Profano e toda a sacralidade se perde e já não existem divindades, apenas seres humanos com olheiras profundas que aguardam a dominação do sono.
O dinheiro volta a existir, pago a conta e coloco meu pé na rua onde o Sol começa a se levantar.  Meu Deus, o Sol voltou a existir e parece que queima minha pele que se grudou ao éter da noite.
Pronto... agora vou caminhando para ver se lembro ou se esqueço...pouco a pouco...quem eu sou de verdade.

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