quarta-feira, 5 de agosto de 2015

CARTOMANCIA DA MINHA PRÓPRIA FACE



Nunca fui de acreditar em ciganas e tarólogas... bom... mentira... sempre fui de acreditar nessas coisas e não vou começar nossa amizade mentindo pra vocês. Pronto, vou começar jurando sinceridade absoluta, estou cansado de mentiras, especialmente as que contei pra mim durante minha vida. Assumo então que sempre acreditei em ciganas  e tarot e esoterismo e quiromancia e espíritos e Deus e Jesus e Buda e Mestres ascensionados e yoga e Krishna e pensamento positivo e magia e pedras e felicidade e tudo o mais que parecer digno dessa lista. E talvez agora, ao ler minha lista, alguns já desistirão desse texto levantando seus manuais de filosofia e torcendo o nariz. A todos vocês que pretendem esfregar Marx e Sartre no meu texto peço encarecidamente que vão se foder  para sempre.
Iniciando novamente agora:
Sempre fui de acreditar em ciganas e tarot e por isso naquele dia aceitei o convite (mentira, fui por que quis mesmo)  pra ir em uma famosa tenda da Cigana Rosa Maria, lugar famoso, mas a que eu morria de medo de colocar o pé (vai saber né). Entrei na tenda tremendo literalmente e de olhos arregalados. Reparei logo na casa simples, na sala com um sofá e uma mesinha de centro, no incenso que impregnava o local e na própria cigana, uma mulher gorda e vestida com calça jeans e camisa amarela. Não sei que tipo de cigana se vestia daquele jeito e fiquei extremamente desapontado, com certeza ela era ruim e eu iria desperdiçar o meu dinheiro.
Sentei-me diante dela e ela colocou o seu baralho em cima da mesinha. Espalhou as cartas organizadamente em cima da mesa e acendeu um cigarro fedorento. Depois olhou fixamente em meus olhos e me perguntou:
- O que você quer saber?
Fui lá com um só interesse e era saber sobre o andamento futuro de minha vida em geral. Assim perguntei:
- Quero saber sobre o futuro de todas as áreas da minha vida.
A cigana deu uma longa tragada no cigarro e me olhou de cima a baixo terminando em meus olhos. Olhou para minhas mãos que ainda tremiam e para meus olhos onde ela lia sei lá que mistério, colocou as mãos nas cartas e sem virar nenhuma pra cima disse:
- Em breve você terá muitas doenças que se seguirão uma à outra,podendo até morrer bem jovem.  Você não vai conseguir nada de novo em sua vida profissional, vai continuar no mesmo lugar em que está e se não cuidar pode até ser demitido. Na vida amorosa tudo vai continuar igual, você vai continuar solteiro e sem ninguém, tem muitas chances de você nunca se casar. É o que eu vejo.
Olhei pra ela muito assustado e me enraiveci. Ela nem tinha virado as cartas, ela não leu o tarot. Como poderia estar falando aquelas coisas pra mim?
- Mas você nem leu o tarot, não tem como você saber essas coisas. Eu já fui em muitas tarólogas e sei que eu tenho que escolher algumas cartas e você vai interpretar.
Ela soltou a fumaça do cigarro para o alto e disse:
- Não preciso ler o tarot no seu caso, as cartas que eu preciso ler já estão estampadas em você. Suas mãos tremendo formam uma carta chamada O MEDO que mostra sua falta de coragem diante da vida e do desconhecido. Essa carta me mostra que você já vive agora os sofrimentos do futuro, que já está doente com as doenças do futuro, que já chora os fracassos que vão acontecer, que já lamenta sua solidão eterna. Seus olhos me mostram uma carta muito importante chamada A CRIANÇA, uma carta que indica com clareza que você não é um adulto ainda, que você pensa que ainda é uma criança indefesa e que fantasmas e bicho-papões te observam do escuro esperando o melhor momento pra te pegar. O modo discreto pelo qual você entrou aqui, tomando cuidado para não ser visto, mostra outra carta, A SOCIEDADE. Essa carta demonstra que você não vive por sua própria vontade, mas pela vontade alheia, Você sacrifica qualquer coisa que realmente queira se alguém impróprio estiver olhando. Some tudo isso e você mesmo pode deduzir o seu futuro em todas as áreas de sua vida. Com certeza, você só encontrará infelicidade e eu não posso fazer nada por você. 
Fiquei vermelho de raiva, me levantei violentamente quase derrubando a mesinha.
- Quanto custou a consulta?
Ela sorriu:
- Nada, usei o seu tarot e não o meu. Da próxima vez que pensar em ir a uma cartomante, se olhe no espelho primeiro.
Nunca mais voltei nessa cigana, imagine só,  uma cigana de verdade não se veste com calça jeans.

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