Parecia chover em todo o Universo, mas sabemos que não há
como chover nos espaços infinitos ao nosso redor, vazios que estão das graças
de nossa natureza. O fato é que essa chuva melancólica me impele à doentia
reflexão e digo doentia porque em mim se manifesta como uma gripe, como um
vírus que oras adormece e oras desperta e que, ao despertar me carrega para as
mais profundas inquietações que jamais pensei conceber. Conheci outras pessoas
que sofrem da mesma moléstia e observei a desolação a que ela pode levar o
homem, vi esse vírus aumentar os cérebros de amigos enquanto comia suas almas
no silêncio dos pontos de interrogação inúteis. Talvez eu venha a ter o mesmo
destino desses senhores e senhoras, em estado terminal da reflexão humana,
devorados por uma doença incontrolável de racionalizar cada fenômeno da vida e
assim desmistificá-lo. A que pobreza horrorosa reduzimos a vida! Talvez essa
pobreza seja o preço que pagamos por cada livro que lemos, por cada ideia
extraída do longo vozerio dos sábios mortos, enfim, nada é gratuito e talvez, a
cada livro velho que abrimos doamos ao vazio um pouco do maravilhoso da
vida...amargo esse gosto que fica na boca.
Veja que chateação essas palavras tristes que saem de nós
nesses dias perversos, esse é o poder mágico dessas gotas que caem do céu na
inocência dos seres sem alma, na neutralidade da matéria que não emite opinião
alguma sobre nada, simplesmente cai em gotas definidas desse céu já todo enquadrado
em livros de ciências... Deus, não deixamos nem um centímetro da atmosfera fora
de nossos livros! Tudo está lá teorizado e desenhado, gases decompostos e
divididos cada um com seu espaço, letra, número, acho que falta pouco para
tocarmos Deus ou já o tocamos e ainda não percebemos...vai ver essa monstruosidade
racional ao qual denominamos Deus é mais simples do que julgamos e por
buscarmos sempre algo tão além nunca perceberemos se estiver perto. Que ousadia
a nossa inventar uma ciência para estudar Deus...teologia...nunca vi, em toda a
história de nosso conhecimento, uma disciplina tão pretensiosa e tão
inútil...tirando de palavras tão simples como as de Cristo argumentos
gigantescos, mirabolantes, divisores, úteis (inúteis) apenas para alimentar
essa longa fantasia cristã sobre um Deus de livros tão complexos. Falando assim
parece que invoco para mim o título de “conhecedor de Deus”, mas não o sou, ninguém é.
Sinceramente, se você prestar bem a atenção a essa linhas
perceberá a completa inutilidade de se refletir sobre tais temas. Não sei se é
outro efeito da chuva, mas não vejo nenhuma utilidade nessas linhas. Para que
servem? Para que gastamos tempo precioso contemplando esse silêncio e dando
espaço a essas vozes atormentadas que sussurram nas páginas dos livros?Cada
ideia aqui lançada é um espirro ou uma
tosse dessa gripe violenta em minha mente, mas que de nada me purifica,
somente nos enche e enche e enche e
enche e enche e possivelmente nos mata e mata e mata e mata e mata até me deixar
sem alma ou seja lá o que estiver dentro de nós a tornar a vida um encanto.
Enfim, é só a droga desse dia de chuva...não liguem.
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