Ela era casada e, para sua doce
infelicidade, ele sabia disso. Há
fatos que seria melhor ignorarmos, assim poderíamos executar certos atos sem os gritos
da consciência pura e católica que mora em nossos órgãos genitais. Ele a levou para seu apartamento e todos sabemos o
que isso significa nas horas altas de sábado (não há mais pureza restante na
face da terra que ignore essas coisas). Ela aceitou o vinho e negou a vodca por
motivos que só os deuses do álcool devem saber, mas isso já é aceitar
silenciosamente a coreografia que desmaia na cama. Rapidamente estavam rindo de
coisas que não são engraçadas e quando ele, corajosamente, tocou as mãos dela, sentiu o metal gélido da aliança e o terror tomou conta de sua alma. O horror
passou como um lampejo em seus olhos, ela não percebeu já que os hormônios
colocam um pano em cima de tudo o que é trevas e só enxergam o que é vermelho. Ele
lutou bravamente dentro de três segundos e ignorou o coro de monges e padres
que pregavam os valores da fidelidade andando como homens minúsculos por seu
corpo, beliscando as partes sensíveis, tatuando com tinta preta as punições
dos adúlteros. Caladas as vozes e partindo do argumento de que de sua parte não
havia adultério, beijou-a, o que ela aceitou estremecida. O terror da traição
não parecia tocá-la, pelo contrário, parecia libertá-la de longos anos de sono.
Com o rosto a centímetros da face dela ele perguntou:
- Você conhece a doutrina dos
pecados mortais?
Ela o olhou espantada, mas um
espanto cheio de desejo:
- Não, eu odeio o cristianismo.
-Eu amo o cristianismo. –
Beijou-a novamente e foi mais demorado dessa vez. Ela fechou os olhos e assim
permaneceu. Ele a abraçou com força e continuou o interrogatório:
- Segundo a Igreja, um pecado
mortal traz dano grave à alma e nos exclui do Reino de Deus. E há duas condições para se consumar um pecado mortal.
- Cale a boca, você vai pregar
pra mim agora? – e riu gostosamente, não pela pregação, mas pela mão dele que
começou a despi-la.
- Você tem conhecimento de que o
adultério é uma ofensa grave aos bons costumes? – perguntou ele enquanto a
desnudava. Ainda de olhos fechados ela respondeu:
- Claro que sei, todos sabem.
Agora ela já estava completamente
nua enquanto ele explorava toda a sua pele.
- Você está de posse de sua razão? Nada está turvando seu senso de julgamento? – agora ele estava nu e preparado.
- Estou ótima.
-E você dá pleno consentimento a
esse ato? Você, de livre e espontânea vontade, quer trair seu marido comigo?
Em uma mistura de palavra com
gemido ela disse:
-Sim!
Eles se juntaram na dança milenar
do prazer e ele sussurrou nos ouvidos dela:
-Então, meu amor, acabamos de
entrar de mãos dadas no inferno.
E lá foram eles, sorrindo, a queimar no fogo do inferno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário