sexta-feira, 22 de novembro de 2013

CARPE DIEM






Vou contar um fato extraordinário que me ocorreu quando eu tinha vinte e um anos. Todos sabem que a idade dos vinte é o paraíso, acho que todos queriam pausar a vida nessa idade e permanecer nessa década abençoada bebendo, estudando, namorando, tr...vinte anos...sim, Louvado seja Deus. 
Mas acontece que um dia eu acordei com setenta anos de idade. Não sei que diabrura se passou no Universo, não sei que fenda se abriu no tempo e no espaço, mas lá estava eu envelhecido. Senti o peso nos ossos e o fardo da vida em cada órgão, minhas pálpebras pesavam e minha pele estava toda enrugada....foi um horror. Pensei que estava sonhando que tinha acordado, mas a cada minuto que eu me percebia, mais parecia que minha juventude era o sonho e que a velhice era a realidade.
Eu ainda morava na mesma casa e ainda compartilhava a mesma infelicidade e os mesmos sonhos. Na parede bem em cima de minha cama os mesmos pôsteres me sorriam, cartazes onde metas de carreiras brilhantes e mulheres francesas profetizavam um futuro glorioso. Mas lá estava eu com setenta anos, minha vida tinha passado, meus vinte anos estavam bem longe já desaparecidos debaixo das areias do tempo, ou seriam escombros?
Desiludido percebi que aquilo era real, que eu era um velho sonhando ser um jovem e que, Santa Mãe de Deus, meu tempo tinha passado e minhas chances tinham acabado. Mas como o tempo pôde passar assim tão rápido? Como se dorme jovem e se acorda velho? O que eu fiz com minha vida? Quem deu ao tempo o direito de se apressar desse modo? Oras, o tempo é a criatura mais egoísta que conheço, corre, corre, corre e nos leva a todos com ele, pensando sempre em seu umbigo de ponteiros de relógio. Parece que o tempo persegue um objetivo que nos é desconhecido, mas ao qual está dedicando todo o seu empenho. Outras vezes penso que essa pressa é porque o tempo está fugindo de algo. Mas o que poderia assustar o tempo? Do que ele estaria fugindo? de nosso tempo sem graça? Mas o que fizemos? Como podemos nos retratar?
- É Deus que está com pressa, meu filho - dizia minha avó, interpretando o mundo nos olhos de Cristo. - É Deus com pressa querendo consumar os séculos...nós o entediamos demais. 
Talvez minha avó esteja certa e naquele meu corpo de setenta anos eu vivia a consumação dos séculos (talvez o Apocalipse seja a velhice). Dormi naquela noite, pois me parece que não existe velho que não durma. E quando acordei tinha de novo vinte e um anos e bilhetes de balada brilhavam em meu espelho. Mas  nunca mais tive certeza do que sou. Sou um jovem que sonhou que era velho ou sou um velho sonhando que sou jovem? Estou há um longo tempo ainda jovem e essa experiência de velhice ainda não voltou. Porém, é melhor viver cada momento como se pudesse acordar a cada segundo aos setenta anos, afinal, tudo isso pode ser apenas o sonho de um velho. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário