Quando ela tinha treze anos de idade trocou os meninos bonitos do colégio por Nietzsche, Sartre e música clássica, ou seja, tornou-se infeliz. Enquanto todos do colégio se divertiam com danças sinistras e beijos na boca ela se sentava na biblioteca e dançava com livros antigos, vozes famosas de tempos mortos. Ninguém entendia as razões pelas quais aquelas páginas amarelas chamavam mais a atenção do que os filmes do fim de semana ou do que os olhos belos dos meninos da oitava série. Todos já sabiam o que o futuro lhe aguardava: Ficaria louca, com certeza. Já olhavam para ela com expressões de compaixão, expressão parecida com aquela que lançavam para os que não tinham Iphone.
Entrou na faculdade e não fez nenhum amigo já que ninguém tinha lido "Assim falou Zaratustra". Em volta dela tinha uma barreira formada por questionamentos que não serviam bem em pobres mortais. Quem se atrevesse a lhe falar algo mais que um "oi" recebia um olhar examinador frio, seu olhar dizia para o mundo que ela não o suportava, afinal quem lê essas coisas não pode suportar o mundo. Na alma, ou melhor, na mente, ou melhor nos cérebros dessas pessoas está gravada uma lei universal e irrevogável: O mundo é uma merda. A vida é infeliz. Esse é um dogma pregado em todo o nosso século.
Enquanto as pessoas se casavam e iam trabalhar em empresas capitalistas ela refletia sobre a superficialidade e a tirania do sistema econômico atual. Ansiava ardorosamente pela ressurreição de Che Guevara ou por qualquer faísca verdadeira de uma revolução social. Foi dar aulas já que se recusava a enriquecer nesse sistema que explora os outros e se ergue em cima de pobres esfomeados.
Juntou-se com um homem bem mais velho, já que não se importava com a beleza física. Ele era um escritor inteligente que espalhava suas críticas e desilusões em mares de pessoas sedentas por essas coisas. Era um grande crítico dos americanos e era seguido como um deus por todos os antiamericanos da moda. Os olhos dela se enchiam de lágrimas quando olhava para a capa do livro onde uma bandeira americana pegava fogo.
Décadas depois e após uma aposentadoria cansativa, a política teórica e os EUA não importavam mais. Agora ela se entregava a livros sobre metafísica. Quando pensou em começar a ler livros místicos já era tarde demais e em sua alma, ou melhor, em seu cérebro estava gravado a inferioridade das religiões e outras ideias ultrapassadas do tipo.
Morreu como qualquer outra pessoa morre e foi enterrada do lado do túmulo de um iletrado. Uma flor foi colocada em seu túmulo por uma católica devota e desconhecida, uma prece foi elevada ao Céu por sua alma perturbada. Porém, ela sabia bem que o Céu não existe e não estaria se beneficiando dessa prática atrasada chamada fé.
A única diferença foi que ela sorriu menos, bem menos.
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